Para os fãs de Fórmula 1, a transferência de Lewis Hamilton para a Ferrari em 2025 trouxe grandes expectativas, mas também revelou desafios inesperados. O heptacampeão mundial está começando a entender que não é o piloto favorito dentro da escuderia italiana, enfrentando diferenças culturais que impactam seu desempenho e adaptação, segundo Eric Boullier, ex-chefe da McLaren.
Desafios da mudança para a Ferrari
A mudança de Hamilton da Mercedes para a Ferrari foi um dos assuntos mais comentados da pré-temporada de 2025. Apesar da coragem da decisão, os resultados ainda não correspondem às expectativas. Além da vitória na sprint da China, o britânico não conseguiu alcançar pódios nas corridas principais, com seu melhor resultado sendo um quarto lugar em Ímola. Em Barcelona, Hamilton demonstrou frustração ao não conseguir acompanhar o ritmo dos adversários.
Boullier, que tem vasta experiência na Fórmula 1, incluindo passagens pela Renault/Lotus e McLaren, destaca que a adaptação a uma nova equipe de ponta como a Ferrari é mais complexa do que para equipes de meio de tabela. "Quando você já ganhou tudo e é o melhor de todos os tempos, eu entendo o desafio, e Ferrari é Ferrari. Sua posição lhe mostra algumas coisas. Uma mudança de equipe é uma grande tarefa para um piloto e ir da Mercedes para a Ferrari, outra equipe de ponta, é mais difícil em termos de adaptação do que ir para, digamos, uma equipe de meio de tabela", explicou ao RacingNews365.
O impacto da cultura da equipe e a comparação com Alonso
O problema cultural dentro da Ferrari é um fator significativo para Hamilton, que se encontra em uma situação semelhante à de Fernando Alonso na McLaren em 2007. Naquela época, Alonso, bicampeão mundial, esperava ser o piloto principal, mas viu Lewis Hamilton, então novato, ganhar o favoritismo da equipe.
"Lembro-me de Fernando na McLaren em 2007. Ele tinha a sensação de que a equipe não o ajudava o suficiente porque Lewis era o favorito. Agora, na Ferrari, Lewis está enfrentando o fato de que Leclerc é o favorito, não ele. Pela comunicação dele com o engenheiro, dá para perceber que ele está com um pouco de dificuldade. Acho que ele precisará de tempo", comentou Boullier.
Semelhanças com casos anteriores e o papel da cultura
Boullier também comparou a situação de Hamilton com a de Romain Grosjean na Lotus em 2012, quando enfrentou resistência inicial da equipe, mas provou seu valor com o tempo. "Eu vi algo semelhante com Grosjean depois que o contratei. As pessoas diziam: 'não, nós não o queremos, ele é ruim!' Eu disse: 'ele não é ruim, ele é um candidato ao pódio'. Eles levaram um ano para perceber que eu estava certo".
O ex-chefe ressaltou que a cultura da equipe tem um impacto enorme na integração do piloto. "Sabemos que ele é rápido, sabemos que ele é o melhor, mas você pode ver que um piloto - Charles - se sente em casa e o outro não", concluiu.
O papel da engenharia e da estratégia nas dificuldades de Hamilton
Além das questões culturais, outro aspecto que tem influenciado o desempenho de Hamilton na Ferrari é a adaptação ao estilo de engenharia e à filosofia estratégica da equipe italiana. Diferentemente da Mercedes, que historicamente priorizou a estabilidade do carro e a facilidade de pilotagem, a Ferrari tem uma abordagem mais agressiva no desenvolvimento do chassi e da aerodinâmica, o que exige um ajuste fino por parte do piloto.
Fontes internas da equipe indicam que Hamilton ainda está se acostumando com a forma como os engenheiros da Ferrari interpretam os dados de telemetria e como isso impacta as decisões durante as corridas. Essa diferença pode ser vista nas comunicações entre o piloto e o time, onde há uma busca constante por encontrar o equilíbrio ideal entre velocidade e conservação dos pneus.
Um exemplo recente foi a corrida em Mônaco, onde Hamilton teve dificuldades para manter o ritmo nas voltas finais, enquanto Leclerc conseguiu administrar melhor os compostos e garantir um pódio. Essa situação reforça a importância da sinergia entre piloto e equipe, especialmente em circuitos que exigem precisão e estratégia apurada.
Comparações técnicas entre Hamilton e Leclerc
Enquanto Hamilton é conhecido por sua habilidade em extrair o máximo do carro em condições adversas, Leclerc tem se destacado pela consistência e pela capacidade de adaptação rápida a diferentes configurações. Essa diferença técnica tem sido um ponto de análise para especialistas, que apontam que a Ferrari pode estar favorecendo o estilo de pilotagem do monegasco em detrimento do britânico.
Dados de telemetria mostram que Leclerc consegue manter tempos de volta mais estáveis durante as fases críticas da corrida, o que contribui para sua posição de destaque dentro da equipe. Já Hamilton, apesar de sua experiência, tem enfrentado dificuldades para encontrar o ponto ideal de frenagem e aceleração, especialmente em pistas com curvas de alta velocidade.
Essa disparidade técnica pode ser explicada também pela diferença na adaptação ao sistema de recuperação de energia (ERS) da Ferrari, que tem características distintas do utilizado pela Mercedes. A gestão do ERS é fundamental para otimizar o desempenho durante a corrida, e a curva de aprendizado para Hamilton ainda está em andamento.
Impacto psicológico e a pressão da torcida
Outro fator que não pode ser ignorado é o impacto psicológico da mudança para uma equipe com uma base de fãs tão apaixonada e exigente como a Ferrari. Hamilton, acostumado a ser o centro das atenções na Mercedes, agora enfrenta a pressão de corresponder às expectativas de uma torcida que há décadas espera um campeão com o cavalo rampante.
Essa pressão pode influenciar o desempenho do piloto, especialmente em momentos decisivos da temporada. A comparação constante com Leclerc, que é visto como o futuro da Ferrari, cria um ambiente onde Hamilton precisa provar seu valor não apenas na pista, mas também fora dela, ganhando a confiança da equipe e dos fãs.
Especialistas em psicologia esportiva destacam que essa situação exige um trabalho intenso de suporte mental para que Hamilton consiga manter o foco e a motivação. A equipe Ferrari tem investido em profissionais para auxiliar o piloto nesse processo, reconhecendo que o equilíbrio emocional é tão importante quanto a performance técnica.
O que esperar para o restante da temporada?
Com a temporada de 2025 ainda em andamento, as próximas corridas serão decisivas para entender se Hamilton conseguirá superar esses desafios iniciais e se firmar como um piloto competitivo dentro da Ferrari. A equipe também terá que ajustar sua abordagem para maximizar o potencial de ambos os pilotos, evitando conflitos internos e promovendo um ambiente colaborativo.
O calendário inclui circuitos que historicamente favorecem a Ferrari, como Monza e Spa-Francorchamps, onde a velocidade máxima e a eficiência aerodinâmica são cruciais. Esses eventos podem ser oportunidades para Hamilton mostrar sua capacidade de adaptação e buscar resultados expressivos.
Além disso, a evolução técnica do carro ao longo da temporada será um fator determinante. A Ferrari já anunciou atualizações significativas para o segundo semestre, que podem alterar o equilíbrio de forças na Fórmula 1 e impactar diretamente o desempenho dos pilotos.
Enquanto isso, a rivalidade interna entre Hamilton e Leclerc promete ser um dos principais temas da temporada, com debates sobre quem realmente merece o papel de líder na equipe e como isso influenciará as estratégias de corrida e o desenvolvimento do carro.
Com informações do: Motorsport