No dia em que completou 66 anos, Carlo Ancelotti recebeu um presente daqueles que todo treinador sonha: uma vitória suada da seleção brasileira em casa. Na Neo Química Arena, em São Paulo, o técnico italiano foi homenageado por torcedores com um mosaico e viu o Brasil vencer o Paraguai por 1 a 0, garantindo a classificação para a Copa do Mundo de 2026. O gol da vitória saiu ainda no primeiro tempo, com Vini Jr. mostrando sua estrela.

Com essa vitória, o Brasil chegou aos 25 pontos nas Eliminatórias. A Argentina, que já está classificada com folga, lidera isolada com 35 pontos. Agora, a seleção encara o Chile, lanterna da competição, no dia 4 de setembro, em casa — jogo em que Vini Jr. estará suspenso — e fecha sua participação contra a Bolívia, fora de casa, no dia 9.

Ancelotti mexeu no time que enfrentou o Equador, promovendo as entradas de Raphinha, Gabriel Martinelli e Matheus Cunha nos lugares de Estêvão, Gerson e Richarlison. O treinador abandonou o esquema com três meias para apostar num quarteto ofensivo, com Vini Jr. como destaque.

Posicionado ao lado de Matheus Cunha, Vini Jr. jogou mais centralizado, função que já desempenhou com Ancelotti no Real Madrid. Martinelli ficou pelo lado esquerdo, enquanto Raphinha, na ponta direita, foi bastante acionado nos minutos iniciais, sempre buscando o meio e abrindo espaço para as investidas de Vanderson.

O Brasil tentou furar o bloqueio paraguaio com bolas esticadas e jogadas individuais pelos flancos, mas encontrou dificuldades. Martinelli, revezando com Vini Jr. na esquerda, criou boas chances. Em uma delas, cruzou na linha de fundo, mas Matheus Cunha perdeu uma oportunidade incrível ao cabecear para o meio da área, em vez de finalizar direto.

O Paraguai se fechou com os 11 jogadores atrás da linha da bola e não criou chances claras no primeiro tempo. A defesa do técnico Gustavo Alfaro segurou bem até os 43 minutos, quando Raphinha driblou três marcadores e tocou para Matheus Cunha, que cruzou rasteiro para Vini Jr. invadir a área como centroavante e marcar o gol da vitória. O placar refletiu a pressão brasileira na etapa inicial.

No segundo tempo, o roteiro não mudou. O Brasil dominou o Paraguai e quase ampliou logo no começo, quando Bruno Guimarães pegou a sobra na área e quase encobriu o goleiro Gatito Fernández, mas Cáceres salvou em cima da linha.

Para tentar abrir o jogo, Alfaro tirou um volante para colocar Ángel Romero, atacante do Corinthians conhecido por marcar em Itaquera. Mesmo assim, a defesa brasileira se manteve sólida, com destaque para o zagueiro novato Alexsandro, do Lille, que venceu a maioria dos duelos individuais.

Com o passar do tempo, o Brasil perdeu um pouco o ritmo ofensivo e o jogo ficou tenso. Ancelotti fez uma mudança ousada: tirou o lateral-esquerdo Alex Sandro para colocar Beraldo, armando o time com três zagueiros e liberando Vanderson para atacar. Também entraram Gerson e Richarlison para tentar aumentar a posse de bola e pressionar mais no ataque.

A seleção voltou a apertar nos minutos finais e quase marcou o segundo com Bruno Guimarães, que finalizou na área, mas Gatito fez uma defesaça. O placar não mudou e a vitória brasileira foi confirmada.

FICHA TÉCNICA

BRASIL – Alisson; Vanderson (Danilo), Marquinhos, Alexsandro Ribeiro e Alex Sandro (Beraldo); Casemiro e Bruno Guimarães; Raphinha, Matheus Cunha (Gerson), Vini Jr. (Richarlison) e Gabriel Martinelli. Técnico: Carlo Ancelotti.

PARAGUAI – Gatito Fernández; Juan Cáceres, Gustavo Gómez, Omar Alderete e Junior Alonso (Sández); Diego Gómez (Ángel Romero), Andrés Cubas, Villasanti (Bobadilla) e Miguel Almirón (Alejandro Romero Gamarra); Julio Enciso e Antonio Sanabria (Gabriel Ávalos). Técnico: Gustavo Alfaro.

GOL – Vini Jr., aos 43 minutos do primeiro tempo.

CARTÕES AMARELOS – Vini Jr. e Bruno Guimarães (Brasil); Junior Alonso (Paraguai).

ÁRBITRO – Jesús Valenzuela (VEN).

PÚBLICO – 46.316 presentes.

RENDA – R$ 2.706.050,00.

LOCAL – Neo Química Arena, São Paulo (SP).

O desempenho de Vini Jr. mais uma vez reforçou sua importância para a seleção. O atacante do Real Madrid não apenas marcou o gol decisivo, mas também foi peça-chave na movimentação ofensiva, abrindo espaços e atraindo a marcação adversária. Sua capacidade de jogar centralizado, como fez sob o comando de Ancelotti na Espanha, mostra a evolução tática do jogador, que não se limita mais a atuar apenas pelas pontas.

Além disso, a escolha de Ancelotti em apostar em um quarteto ofensivo com Martinelli, Raphinha, Matheus Cunha e Vini Jr. demonstra a busca por um futebol mais vertical e dinâmico, mesmo diante de um adversário que se fechou completamente. Essa estratégia, apesar de exigir paciência para furar o bloqueio paraguaio, acabou sendo recompensada com o gol no final do primeiro tempo.

Do lado defensivo, a atuação de Alexsandro merece destaque. O zagueiro, que vem ganhando espaço no Lille, mostrou segurança e firmeza, especialmente nos duelos individuais contra atacantes rápidos e habilidosos do Paraguai. Sua presença ajudou a manter o sistema defensivo brasileiro compacto, mesmo quando o adversário tentou pressionar mais no segundo tempo.

Outro ponto interessante foi a adaptação tática no segundo tempo, com a entrada de Beraldo e a mudança para três zagueiros. Essa alteração permitiu que Vanderson tivesse mais liberdade para apoiar o ataque, criando superioridade numérica pelos flancos. A movimentação do lateral-direito foi constante, e suas investidas ajudaram a manter o Paraguai acuado, mesmo que o Brasil não tenha conseguido ampliar o placar.

O Paraguai, por sua vez, mostrou um jogo bastante defensivo, mas com lampejos de perigo principalmente em bolas paradas e contra-ataques rápidos. Ángel Romero, que entrou no segundo tempo, tentou dar mais profundidade ao ataque paraguaio, mas esbarrou na sólida defesa brasileira e na falta de criatividade para furar o bloqueio.

O técnico Gustavo Alfaro precisará repensar a estratégia para os próximos jogos, especialmente diante de adversários que não se fecham tanto quanto o Brasil. A seleção paraguaia ainda luta para se manter viva nas Eliminatórias, e a falta de efetividade ofensiva tem sido um problema recorrente.

Para o Brasil, a classificação antecipada traz um alívio, mas também um desafio: manter o ritmo e a intensidade até o fim das Eliminatórias, mesmo com algumas ausências importantes, como a suspensão de Vini Jr. contra o Chile. Ancelotti terá que encontrar soluções para manter o equilíbrio entre defesa e ataque, além de continuar testando variações táticas que possam surpreender os adversários.

O clima na Neo Química Arena foi de festa, mas também de expectativa. A torcida sabe que a Copa do Mundo está próxima, mas quer ver um Brasil que jogue com a mesma intensidade e criatividade que mostrou nos momentos decisivos contra o Paraguai. A pressão para manter a hegemonia sul-americana é grande, e o time de Ancelotti parece disposto a encarar esse desafio com confiança e talento.

Enquanto isso, a rivalidade com a Argentina segue sendo um dos grandes atrativos das Eliminatórias. Com a Albiceleste já classificada, o Brasil busca não apenas garantir sua vaga, mas também mostrar que pode ser o principal adversário na briga pelo título continental. O duelo entre as duas seleções promete ser um dos pontos altos da próxima Copa do Mundo, e os torcedores já começam a sonhar com esse reencontro.

Nos bastidores, a presença de Ancelotti no comando da seleção brasileira tem gerado debates interessantes. Sua experiência europeia e seu estilo de jogo mais pragmático contrastam com a tradição brasileira de futebol ofensivo e flair. No entanto, até aqui, o treinador tem conseguido equilibrar essas características, trazendo resultados e agradando a torcida.

O próximo desafio contra o Chile será uma oportunidade para o Brasil mostrar sua força diante de um adversário que ainda busca pontos para escapar da lanterna. Mesmo sem Vini Jr., a expectativa é que o time mantenha a postura ofensiva e a solidez defensiva, consolidando a vaga e preparando o terreno para a reta final das Eliminatórias.

Além disso, a gestão de Ancelotti sobre o elenco, com rodízio e oportunidades para jovens talentos como Beraldo e Alexsandro, indica uma visão de longo prazo que pode ser fundamental para o sucesso na Copa do Mundo. A mistura de experiência e juventude pode ser o diferencial para o Brasil superar os desafios que virão pela frente.

Enquanto isso, a torcida segue acompanhando cada lance, cada decisão tática e cada jogada com a paixão que só o futebol brasileiro sabe despertar. A Neo Química Arena, palco da vitória contra o Paraguai, promete ser novamente um caldeirão para os próximos confrontos, com a esperança de ver o Brasil brilhar e conquistar mais um título mundial.

Com informações do: ISTOÉ