O Botafogo foi condenado pela Fifa a pagar mais de US$ 21 milhões, aproximadamente R$ 117 milhões, por inadimplência na contratação do atacante argentino Thiago Almada junto ao Atlanta United FC, dos Estados Unidos. A decisão da Câmara dos Jogadores, órgão jurídico interno da Fifa, foi anunciada às vésperas do Mundial de Clubes, competição na qual o clube carioca estará presente.

Contexto da negociação e impacto no elenco

O valor da multa inclui parcelas atrasadas, não quitadas e também aquelas que ainda venceriam futuramente, totalizando o montante acordado entre o clube americano e o Botafogo. O acordo para a transferência de Almada foi fechado em junho de 2023, com o jogador anunciado oficialmente em julho. Desde então, o argentino se tornou peça fundamental nas conquistas do Brasileirão e da Copa Libertadores de 2024 pelo clube carioca.

Em janeiro de 2024, Thiago Almada deixou o Botafogo para se transferir ao Lyon, clube francês que também pertence ao grupo Eagle Football, liderado pelo americano John Textor, proprietário da SAF do Botafogo.

Detalhes da condenação e valores envolvidos

Segundo a decisão da Câmara dos Jogadores, o Botafogo deve pagar US$ 21 milhões, valor que pode aumentar com o tempo devido aos juros aplicados. A dívida é composta por:

  • US$ 3 milhões com juros de 5% ao ano desde 22 de julho de 2023 até o pagamento;

  • US$ 18 milhões com juros de 5% ao ano desde 30 de agosto de 2024;

  • Multa de US$ 150 mil;

  • Custas judiciais de US$ 25 mil, totalizando US$ 175 mil (aproximadamente R$ 973 mil).

Esses valores devem ser depositados diretamente na conta da Fifa em até 45 dias. Caso o pagamento não seja efetuado, o Botafogo poderá sofrer um "transfer ban", impedindo novas contratações na próxima janela, além de ter o caso encaminhado ao Comitê Disciplinar da Fifa, com risco de sanções mais severas.

Parcelamento e defesa do Botafogo

O contrato entre Atlanta United e Botafogo previa o pagamento de US$ 21 milhões em parcelas trimestrais até 30 de setembro de 2026. As duas primeiras parcelas, ambas de US$ 3 milhões, não foram pagas pelo clube brasileiro, enquanto as seguintes seriam de US$ 2 milhões cada.

Na defesa apresentada, o Botafogo reconheceu apenas a dívida das duas primeiras parcelas e contestou a "cláusula de aceleração" do contrato, que determina o pagamento integral da dívida em caso de atraso nas parcelas.

Até o momento, a diretoria do Botafogo não se pronunciou oficialmente sobre a decisão da Fifa. Procurada pelo Estadão, a equipe não respondeu às solicitações de comentário.

Repercussões no mercado e no futebol brasileiro

A condenação do Botafogo pela Fifa não afeta apenas o clube carioca, mas também gera um alerta para outras equipes brasileiras e sul-americanas que realizam negociações internacionais. A inadimplência em contratos de transferência pode resultar em sanções severas, como bloqueios para registrar novos jogadores, o que impacta diretamente o planejamento esportivo e financeiro dos clubes.

Além disso, a decisão reforça a importância de uma gestão financeira rigorosa e transparente, especialmente em um cenário onde os clubes brasileiros buscam se profissionalizar e atrair investimentos estrangeiros. O caso do Botafogo serve como um exemplo das consequências que podem surgir quando os acordos não são cumpridos integralmente.

Implicações para Thiago Almada e o Lyon

Com a transferência de Thiago Almada para o Lyon, o jogador argentino segue sua trajetória na Europa, onde espera consolidar sua carreira em um dos principais campeonatos do continente. A movimentação também evidencia a estratégia do grupo Eagle Football, que controla tanto o Botafogo quanto o Lyon, facilitando a circulação de atletas entre seus clubes.

Para Almada, a mudança representa uma oportunidade de crescimento técnico e exposição internacional, mas também coloca em evidência a complexidade das negociações envolvendo múltiplas partes e interesses financeiros. O desempenho do atacante no Lyon será acompanhado de perto, especialmente considerando o investimento significativo feito pelo Botafogo em sua contratação.

Possíveis desdobramentos jurídicos e administrativos

O não pagamento da multa pode levar o Botafogo a enfrentar sanções adicionais, como a suspensão de registros de novos jogadores, o que comprometeria a montagem do elenco para as próximas temporadas. Além disso, o caso pode ser levado ao Comitê Disciplinar da Fifa, que tem autoridade para aplicar punições mais rigorosas, incluindo pontos deduzidos em competições ou até mesmo rebaixamento administrativo.

Internamente, o clube terá que avaliar suas finanças e buscar alternativas para negociar o pagamento da dívida, seja por meio de parcelamentos, acordos extrajudiciais ou até mesmo venda de atletas para levantar recursos. A situação também pode gerar pressão sobre a diretoria e a gestão da SAF, que precisam garantir a sustentabilidade do clube diante de desafios financeiros e esportivos.

Reações da torcida e do mercado esportivo

A torcida do Botafogo tem demonstrado preocupação com a situação, especialmente diante da proximidade do Mundial de Clubes, onde o clube busca uma boa campanha para consolidar sua imagem internacionalmente. Nas redes sociais, fãs e analistas discutem os impactos da multa e a necessidade de uma gestão mais eficiente para evitar problemas semelhantes no futuro.

No mercado esportivo, agentes e clubes observam o caso como um exemplo das complexidades envolvidas nas transferências internacionais, reforçando a importância de contratos bem estruturados e do cumprimento rigoroso dos prazos financeiros. A situação do Botafogo pode influenciar negociações futuras, com maior cautela por parte dos clubes vendedores.

Com informações do: ISTOÉ