O meio-campista brasileiro Lucas Paquetá, atualmente no West Ham, aguarda com ansiedade a decisão de um julgamento que pode definir o futuro de sua carreira no futebol. Acusado de má conduta e manipulação esportiva relacionada a apostas, o jogador teve sua audiência concluída recentemente, mas o veredito final só deve ser divulgado nos próximos 30 a 60 dias, conforme determinação da Justiça inglesa.
O caso tem gerado polêmica não apenas pelo seu potencial impacto na carreira do atleta, mas também pela demora no processo. O West Ham, clube de Paquetá, já manifestou preocupação com o prazo estendido, argumentando que isso prejudica seu planejamento para a próxima temporada.
As acusações contra o jogador
As acusações contra Paquetá são graves e específicas. Em maio de 2024, o brasileiro foi formalmente denunciado por supostamente forçar cartões amarelos em quatro partidas distintas pelo West Ham:
West Ham 0 x 2 Leicester (12 de novembro de 2022)
West Ham 1 x 1 Aston Villa (12 de março de 2023)
West Ham 3 x 1 Leeds (21 de maio de 2023)
Bournemouth 1 x 1 West Ham (12 de agosto de 2023)
O que torna o caso ainda mais peculiar é que cerca de 60 pessoas da Ilha de Paquetá, bairro onde o jogador nasceu no Rio de Janeiro, teriam apostado no recebimento de cartão amarelo pelo atleta exatamente nesses jogos. As apostas foram realizadas na Betway, patrocinadora oficial do West Ham.
As possíveis consequências
A Federação Inglesa (FA) está pedindo o banimento de Paquetá do futebol, baseando-se na Regra E5.1, que proíbe qualquer tentativa de influenciar aspectos de uma partida para fins impróprios. No entanto, o processo tem enfrentado atrasos - iniciado em março, só foi concluído em junho, com a sentença prevista para agosto.
Enquanto aguarda o veredito, Paquetá segue podendo atuar normalmente. E mesmo após a decisão, o jogador terá direito a recorrer - primeiro na própria FA e depois na Corte Arbitral do Esporte (CAS). As possíveis punições variam desde suspensões temporárias até o banimento definitivo, que poderia se restringir à Inglaterra ou, se a FIFA se envolver, tornar-se global.
O caso levanta questões importantes sobre a relação entre jogadores e o mercado de apostas esportivas, que tem crescido exponencialmente nos últimos anos. Como equilibrar a liberdade individual dos atletas com a necessidade de proteger a integridade do esporte? E até que ponto os patrocínios de casas de apostas para clubes e competições influenciam esse delicado equilíbrio?
O impacto nas negociações e no mercado da bola
As acusações contra Paquetá já começaram a afetar sua carreira mesmo antes da decisão final. No último mercado de transferências, o Manchester City, que havia demonstrado forte interesse no jogador, recuou completamente das negociações após as denúncias se tornarem públicas. Fontes do clube citaram "riscos reputacionais" como principal motivo para o desinteresse.
O valor de mercado do brasileiro, que chegou a ser cotado em €85 milhões no início de 2024, sofreu uma queda significativa. Analistas estimam que, mesmo no melhor cenário possível (uma suspensão curta), Paquetá dificilmente recuperará seu valor anterior nos próximos dois anos. Afinal, qual clube estaria disposto a investir alto em um jogador com esse histórico?
As defesas e contradições no caso
A defesa de Paquetá tem argumentado que as coincidências nas apostas não passam de justamente isso - coincidências. Seus advogados destacam que:
Não há evidências diretas de comunicação entre o jogador e os apostadores
Paquetá tem histórico de ser um jogador "intenso" que naturalmente recebe cartões
As apostas foram relativamente pequenas (entre £5 e £50), o que questiona a tese de esquema organizado
Por outro lado, a FA sustenta que o padrão é muito específico para ser mera coincidência. Em três dos quatro jogos, Paquetá recebeu o cartão amarelo entre os 30 e 40 minutos do segundo tempo - um timing incomum para um jogador que normalmente é advertido no início das partidas ou nos minutos finais, quando o jogo esquenta.
O precedente perigoso e casos similares
O caso de Paquetá não é isolado no futebol mundial. Em 2023, o zagueiro italiano Sandro Tonali recebeu suspensão de 10 meses por apostar em partidas - embora não tenha sido acusado de manipulação direta. Já o brasileiro Matheus Nascimento, então no Botafogo, foi suspenso por 6 meses em 2022 por suposta manipulação de resultados na Série B.
O que diferencia o caso de Paquetá é a alegação de que ele teria agido de forma ativa para influenciar eventos específicos do jogo. Se provado, isso criaria um precedente preocupante para outros jogadores. Afinal, como distinguir uma jogada "teatral" comum no futebol de uma tentativa deliberada de enganar o árbitro para benefício de apostadores?
Especialistas em direito esportivo apontam que a FA pode estar buscando um exemplo no caso Paquetá, considerando especialmente a crescente pressão sobre as ligas para regulamentar a relação entre futebol e apostas. A Premier League anunciou que vai banir patrocínios de casas de apostas nas mangas dos uniformes a partir de 2025, mas mantém contratos milionários como o da Betway, envolvida no caso.
Com informações do: Metropoles